Menino do Poço
com reminiscência, bom humor e esperança
1) Poço no riacho
Poço da Pedra, tu és
de um bosque reminiscente;
nas tuas águas de afluente,
lavaste* muito os meus pés.
Dei pulos e cangapés
contra a tua correnteza.
Tu e eu, com a ligeireza,
eu pulava e tu corrias.
Eram alegres nossos dias
na enchente e na represa.
*podia ser também "levaste".
2) Arrepio de saudade
Em vez de sentir o frio
dos banhos que eu tomava,
penso agora onde nadava,
sinto os braços com arrepio.
"No inverno, hoje estou vazio¹";
com a chuva agora, estás cheio.
Quero mais andar no meio
do poço e em cima da pedra.
"Teu volume de água medra²
com a chuva e o meu devaneio."
¹vazio: triste. ²medra: cresce.
3) “Ao redor do rio, tudo é ribeira”
Não achei como evitar
"riso e lágrima" de saudade;
não só por causa da idade,
mas pelo que vens lembrar:
"lembro as ondas a espumar
e o ronco da cachoeira;
a sinfônica barulheira
que fazias, ao chover;
eu e os bichos íamos ser
crias da tua ribeira".
4) Machismo do infante
Levei também cipoada
ou "banho quente de peia"
do menino que aperreia
sua mãe
preocupada.
Eu ia, sem dizer nada,
de casa
para o riacho.
Até
hoje ainda eu acho
que
podia ter caído
sobre
um toco e ser ferido
por querer ser "muito macho".
5) Menino das Manhãs
Ainda sou o Menino
daquelas longas manhãs;
com os meus infantis afãs,
tenho paz ou me afino.
Em campo mental, germino
os "troncos dessa lembrança".
Aquela feliz criança
volta ao leito*, à pedra e ao poço
para ver se eu fico moço
com os "banhos de esperança".
*leito nos dois sentidos: do poço e do menino.
6) Cisne saudoso
A nossa
historinha é um fato
que
mostra como eu, criança,
era
feliz na bonança
de um
poço à beira do mato:
leve e
livre como um pato,
nadava na água parada
ou
corrente e ondulada.
Qual cisne
saudoso, eu digo
que "ainda és meu abrigo
nas manhãs de invernada".
7) Poço seguro
Sou uma criança de outrora
que
hoje sai pela cidade,
relembrando aquela idade,
por onde passa ou demora;
que anda, "levando lá fora
vento e água" ao ar puro.
Vejo o
passado e o futuro,
"saudando a chuva que cheira
à pedra e à ribanceira
daquele poço seguro".
Poema com
a personificação de um poço no riacho e nascido em certa manhãzinha de inverno.
Personificação ou prosopopeia é uma figura de linguagem que consiste em "atribuir a objeto inanimado ou ser irracional, sentimentos ou ações próprias do ser humano".
Nenhum comentário:
Postar um comentário