"pra muita linha ordinária".
Parodiando o apólogo de Machado de Assis,
A agulha e a linha, que termina assim:
" — Também eu tenho servido de agulha
a muita linha ordinária".
Só não servi muito a Deus,
por não ser religioso.
Mas, do pobre irmão queixoso,
escuto os queixumes seus;
dou-lhe benefícios meus
em moeda monetária;
e “a flor beneficiária
vira um espinho ou fagulha”.
(Tenho servido de agulha
pra muita linha ordinária.)
Ao nascer da alvorada,
não faço o “sinal da cruz”,
mas lembro-me de Jesus,
carregando a “cruz pesada:
foi pisado em debulhada
de semente solidária".
Como baja hereditária,
também entro na debulha.
(Tenho servido de agulha
pra muita linha ordinária.)
Sei que é muita presunção
eu me comparar a Cristo,
mas ainda falta isto:
dizer que sou seu irmão!
“Na máquina da gratidão,
abro costura diária;
e na direção contrária,
muito fio ainda se embrulha.”
(Tenho servido de agulha
pra muita linha ordinária.)
Ajudei a três partidos,
pensando que um fosse o meu;
mas o seu chefe esqueceu
o que fizemos unidos:
nós nunca fomos vencidos
em campanha partidária!
Em grupo, ele faz plenária
com barreira que me entulha.
(Tenho servido de agulha
pra muita linha ordinária.)
Hoje a minha inquietação
subiu além do limite.
Mas faço por onde evite
juntar mais perturbação:
não sigo na contramão
de uma ajuda humanitária —,
que, na hora necessária,
junto a mim, ainda se entulha.
(Tenho servido de agulha
pra muita linha ordinária.)
Ficção de brincadeira
Dei pasagens de avião,
carro de luxo e hospedagem
aos agentes de viagem,
na crise da aviação.
Mas, na minha precisão
de voar para Bulgária,
voltei da rodoviária
da cidade de Pampulha.
(Tenho servido de agulha
pra muita linha ordinária.)
Nota: poemeto feito dia após dia, semelhante a um folhetim (diariamente).
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