Incerto, solitário, decepcionado, enfermo, político, dialético, metafísico
Homens em teste
Os homens têm de passar
por dias de provação:
dizer, e ouvir falar,
"sim, 'quizás' (talvez) e não"
com o fito de enfrentar
incerteza ou decisão,
pois "viver só de agradar
pode matar de ilusão,
se o agrado faltar
na hora da precisão".
Solidão, menor mal
Ou: solidão, doença e morte.
Acostuma-te
a viver
nos braços
da Solidão,
sem
receber atenção
de quem a
querias ter.
Se
chegares a adoecer
e o teu
mal não tiver cura,
irás para
a sepultura,
que ainda
não é o fim:
é morada
em um “jardim
de areia,
chuva e amargura”.
Pressão e resistência
Fique logo acostumado
a sofrer decepção.
Resista ao fogo e pressão
como herói condecorado.
Aceite ser humilhado,
mas “dê a volta por cima”.
Suporte o calor do clima
e o vento da intempérie.
Resolva as crises em série
pela que mais se aproxima.
Doença, dor e morte
É bem mais fácil falar
como vencer a doença
do que fazer o que vença
seu bastão de maltratar¹.
Mas é preciso lutar,
sabendo que vai perder² —
ou, aceitando morrer,
ou se tornar "imortal"
com a dor aguda e geral
que não para de doer³.
¹Falar é fácil, difícil é fazer.
²A morte é invencível.
³Dilema dramático.
Existencial e político
Ninguém é todo liberto
para dizer o que pensa.
Muita gente fica tensa
com o "microfone aberto".
O futuro é um tanto incerto
qual uma promessa vã,
mas o Homem crê no Amanhã.
Pelo imposto¹ e o que eu penso,
cada vez mais me convenço
de que "o Estado² é um leviatã³".
¹ imposto nos dois sentidos: imposição e tributo.
² Estado nos dois sentidos: Federal e Federado (Estado-Membro da União).
³ Leviatã é um monstro. Ver no Google: o Estado é um leviatã na visão de Hobbes.
Composto existencial, dialético
Como seres históricos, precisamos
entender que a Existência é composta:
"não é só do bastão de que o rei gosta,
mas também do poder que lhe tiramos".
Infindáveis problemas, enfrentamos,
do repouso ao posto de trabalho...
Nossa vida é um jogo de baralho
cujas cartas, nem sempre, escolhemos.
"É perdendo e ganhando que vivemos —
a fazer ponto certo e ponto falho."
Curiosidade à parte: a estrofe acima
é uma décima (10 versos), em decassílabos (dez sílabas métricas) e
rimas intercaladas (a-b-b-b-a-a-c-c-d-d-c); tem sempre uma pronúncia forte na
3ª, 6ª e 10ª sílaba poética de cada verso, como está sublinhado em cada um; é
apropriada para o canto no estilo de Martelo Alagoano (cujo refrão é "nos
dez pés de
martelo alagoano") da Literatura
de Cordel.
Embate da Solidão com a Alegria
A Solidão é uma tal zombeteira
que me acompanha sadio ou doente.
Ou por natureza, ou ironicamente,
a mesma não sente uma dor nem canseira.
Descendo ou subindo sucesso ou ladeira,
da minha presença, ela não se isola.
Amarga e maltrata, enquanto consola.
"Mas não sai no rosto nem fotografia —
onde eu apareço com a doce Alegria
que toma seu canto e, ao meu rosto, cola."
Autobigráfica.
Claridade física e metafísica
Quem mais precisa de luz:
escritor com os sentidos?
caçador com os ouvidos?
atirador com obus?
ou defunto com a cruz?
Escreve-se com intuição
e caça-se com a visão;
atira-se com a maldade.
Sem complementaridade,
morto tem mais precisão.
"Conta conjunta"
Aos Irmãos, o Homem pergunta
quando é que ele vai morrer:
é uma "conta conjunta"¹
que eles não sabem fazer;*
e o dinheiro² que ele junta,
cheira, calcula e assunta,
o Céu não vai receber.
¹expressão emprestada da linguagem bancária e
usada aqui, em sentido figurado.
²dinheiro, no sentido próprio: monetário ou
material.
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